terça-feira, novembro 21, 2006

Uma história

E um dia ela deixou de existir... porque o seu nome fora esquecido, a sua voz calada, o seu riso congelado e as suas lágrimas secado... um dia ela acordou e viu que estava só, não porque a espécie se havia extinguido, mas porque não conhecia nenhuma cara, não recebia nenhuma sorriso, nenhuma chamada, nenhum convite, nenhum bom dia... as faces de que se lembrava recentemente, haviam apagado da sua memória quem em tempos as afastou, quem em tempos não se deu a conhecer, quem não abriu os braços para a humanidade... de repende, viu que não sabia o que era amar, que não sabia o que era ser amada... de repente viu que a vida era mais do que aquilo a que estava habituada... viu que a vida era aquilo que ela negara e tentara afastar, e que na realidade essa mesma vida nunca a perseguiu... viu que era apenas mais alguém que perdera toda e qualquer possibilidade de ser feliz, toda e qualquer possibilidade de ultrapassar o muro que ela própria criara. Demasiado alto e bem estruturado... De repente voltou a chorar, que era o que lhe restara de ser Ser Humano... porque tudo o resto caiu numa fenda escura e profunda como aquilo a que um dia chamou coração... e a culpa foi só dela... e não havia retrocesso neste processo de isolamento. Nesse dia ela olhou-se ao espelho e desconheceu-se, talvez pelas lágrimas pesadas, pela vida perdida, pela tristeza que tanto a abateu e modificou... se ao menos tudo tivesse sido diferente desde o princípio... e voltaram os "ses" e as dúvidas e o passado voltou a dominar o futuro já comprometido... teria o presente salvação naquela cidade, naquele Ser? Ela assim o desejava.. mas tudo foi perdido no negrume em que se tornaram os seus olhos, onde mais nenhuma luz brilhou... hoje ela caminha sem tirar os olhos do chão, e ninguém se importa.

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