sábado, maio 23, 2009

quinta-feira, maio 21, 2009

fade out...


Perfeito vazio...

Hoje ouvi esta música, (dos Xutos e Pontapés, para quem não saiba).. e voltei a dar por mim a deambular pela cidade... e ver pessoas com idade inferior a 20 anos ou superior a 40/50 anos pelas ruas... dei por mim a ver que as pessoas que andaram comigo na escola saíram todas da cidade, assim como as da minha geração... dou por mim a ver as pessoas com quem me dava casadas, com filhos ou lá perto, dei por mim a vê-los também com os seus problemas - como todos os outros -, mas a superá-los.. dei por mim a ver a vida a passar-me completamente ao lado.. dei por mim a vaguear já sem olhar para as pessoas e a sentir um vazio grande dentro de mim... dei por mim a perguntar e a responder que a culpa é inteiramente minha por ter nascido, por ter sido e por ser como sou.. e no entanto por não ter consguido mudar ou nem saber como o fazer... pensei no grande e talvez, maior erro que cometi, que foi ter regressado ao local onde não tinha e não tenho nada à minha espera a não ser esta sensação contínua de frio e de solidão, de culpa por existir e de inutilidade quanto à minha existência... dei por mim a pensar que todos estão, mal ou bem, mas estão longe daqui... dei por mim a reviver a adolescência, mas sem a idade, sem a possibilidade de experimentar o que quer que fosse, dei por mim novamente sem amigos, sem ninguém a quem recorrrer.. dei por mim a pedir desculpa por existir, por ser feia, por ser invisível... porque é isso que sinto agora.. é isso que me fizeram sentir.... e foi isso que aprendi a sentir enquanto crescia, senti toda a adolescência... e era isso que eu sabia que sentiria se voltasse... agora, mais do que isso sinto que vá para onde for, faça o que fizer é tarde... não vou experimentar, não vou preencher o vazio...

A vida em pouco tempo...

numa existência de 60, 70, 80 anos... quanto tempo é que se viveu? é o resultado do somatório dos momentos felizes...número de episódios ou período de tempo de euforia? eu pergunto isto, porque há já algum tempo que ando para postar aqui uma morte assitida pela família/conjuge... em (quase) 5 anos de profissão foi a primeira vez que vi alguém presenciar os momentos finais de existência de um ser humano, que foi a sua companhia durante sei lá quantos anos... eu vi aquela pessoa, a desistir de lutar e mais uma vez a ser literalemente morta pela doença que o dominou há algum tempo. Eu testemunhei de turno para turno essa mesma doença a mantê-lo vivo para poder consumi-lo ainda mais... é uma tortura mantida pelo torturador.... fere a pessoa dominada e os que o circundam... é o corpor e a dor que ali estão apenas e nesta luta a dor supera... eu fui chamada em lágrimas e desespero por alguém que, acredito eu, nesta alturas espera uma milagre, uma lufada de ar fresco ou um despertar de um pesadelo... para, apenas, prolongar o cenário que se antevia... eu não aliviei o sofrimento a ninguém... eu apenas coleccionei mais uma memória do fim da existência, na minha vasta e horrenda colecção, tatuada na minha consciência... e quando pedi 5 minutos apenas à família para ficar a sós com o Ser que deixou de o ser, tirei-lhe os tubos, limpei-lhe a cara e então cedi à família tempo para se despedirem dele... mal virei as costas, soube que a esposa o beijou e lhe fez uma festa carinhosa na cara :"vou amar-te sempre"... não sei... quantas vidas é que terminaram com o último sopro... a dele, a vida da relação.. a vida da doença, a vida do amor, e a vida de quem cá fica?!

Numa atitude egoísta dei por mim a pensar... se fosse hoje.. eu morreria sozinha, e nunca teria ninguém para me fazer um último carinho ou para sentir a minha falta... hoje ou nos últimos 27 anos da minha vida... então o que fiz de mal? a vida em pouco tempo.. porque não acaba apenas aos 70, 80 anos.. mas também aos 30 e aos 40.... e eu sinto que nem a comecei, sem esperança de algum a dia começar....