sexta-feira, outubro 30, 2009

Cicatrizes....

As marcas que trouxe da Madeira (the island) passam pela cicatriz que me ficou na cara... mesmo por baixo do lábio inferior.. directamente na cara para que, quando eu tiver que olhar o meu reflexo no espelho, não esqueça nunca... a pergunta de todos os dias e que ainda se mantém.. quem vai olhar? Quem vai sequer perder um tempo ínfimo para reparar em mim ou na minha cicatriz... e no meio dois anos ficam três cicatrizes físicas... mas por incrível que pareça, por mais doloroso que possa ser ter uma ou três marcas, ser realmente feia ou estar mais gorda do que o habitual... a verdade é que as cicatrizes provocadas por nós mesmos e pelos outros, especialmente por aqueles que nós consideramos amigos, são deveras as piores. Mas que se revelam exactamente o contrário. E pior, porque quando nos deixamos conhecer bem, e geralmente mais de 10 anos de amizade costumam ser mais do que o suficiente, sabem bem onde apontar a mira... e cicatrizes resultantes de ferimentos de arma branca ou de fogo não são, nem de perto nem de longe, tão marcantes nem sobressaiem tanto quanto as outras. Aquelas que nos toldam o carácter, que nos definem porque de certo modo, as nossas atitudes e comportamentos são o resultado de uma personalidade que é tão marcada pelas desilusões quanto a nossa pele é marcada pela hipertrofia dos tecidos. Então olhamos com atenção ao espelho e o que vemos para além de uma cara marcada pelo tempo, pelo passar dos anos e pelas cictrizes físicas, é nada mais nada menos do que aquilo que nos deitou abaixo e nos faz sentir a coisa mais feia e desprezível... e o que acontece depois?! Depois, espero que atenue, porque até agora para além das marcas físicas que infelizmente não passaram nunca, não há modo de ultrapassar aquelas que estão na memória e que me toldam a visão da vida, das pessoas e de mim mesma... e que conseguem fazer-me sentir algo abaixo da condição de pessoa, algo... inexistente.

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