Toca o despertador... acordo, desligo o despertador, e volto a adormecer... acordo atarantada.. tarde a más horas.. de um pulo vejo-me em pé, corro até à casa de banho (paragem obrigatória para a urina tipo II), meto-me debaixo do chuveiro com a água ainda fria - isto é - acordo pela terceira vez e de vez! Acabo de tomar banho, seco e visto-me à pressa, bebo um copo de leite (de soja biológica, que é tão saudável), engasgo-me, sai-me leite pela narinas, fico a tossir durante mais uns 5 min, rio-me com a minha figura e com o raio da manhã, engasgo-me ainda mais... e vou lavar os dentes e o nariz para evitar o cheiro a azedo durante o resto do dia! Saio de casa, fecho a porta à chave, tropeço num dos cães que têm a mania de se meterem à frente dos pés, ia-me estatelando.. lembro-me do almoço que ficou na mesa da cozinha.. volto atrás, ralhando e espantando os cães... abro a porta, vou direita à cozinha e agarro na "marmita", dou mais meia volta e corro até ao carro, (desta vez sem esquecer que fechar a porta à chave, nem de dar um pontapé ao cão... fecho portão, entro no carro... mesmo atrrasada vou devagar não vá algum geninho mal humorado ficar mais feliz hoje.... chego ao Hospital.. e ao fim de três voltas encontro um lugar.... corro do carro até ao serviço que nem uma doida... digo bom dia a correr a tudo e todos (mais do que uma vez), visto-me a correr, ponho o almoço no frigorífico na copa do serviço.. vou até ao outro lado do hospital, onde estou destacada hoje para trabalhar... preparo medicação que não é para preparar, ouço do meu colega, não percebo nada dos ciclos de quimioterapia, o meu colega está mal disposto - descarrega em mim!-, a médica está mal disposta - descarrega em mim-... rebento com as veias... logo os doente ficam mal dispostos (e com razão!) - descarregam em mim.. os familiares estã muito tempo à espera, estão revoltados - adicvinhem só, descarregam em mim!), com tanta má disposição sinto-me... sinto-me.. pah, sinto-me um cogumelo, pergunto-me "porque é que a minha mãe não fez um queijo?" e também penso que "sou uma inútil, uma incompetente.. não tenho jeito para nada" (enfim.. mimos deste género"... termina o dia.. vou ver um apartamento para arrendar.. mais dúvidas, mais prazos, mais exigências.. (ainda não sei se vou ficar com ele...). Venho embora recebo uma mensagem e vou ter com dois amigos ao café.. estou "com a mula" ou "com a neura", como queiram.... e eles ouvem, ouvem e gozam comigo... passado um pouco vimo-nos embora... vejo o gajo que me interessa com a gaja que lhe interessa ao beijos e de mão dada 8pelos vistos interessanm-se um ao outro).. vou ter com uma amiga que me dá nas orelhas sobre: tu não te valorizas, não te produzes, não vês que a vida é curta, que não estás com ele pq tu não te valorizas, não arriscas, não vês que tu podes ter melhor, podes ser melhor, dias maus todos temos.. não vês que tu és a tua pior inimiga... enfim.. depois de um dia destes ouço uma amiga a falar durante 5HORAS acerca do facto de não ter auto-estima, de não poder martirizar-me tanto, de ter que atravessar a barreira psicológica auto-inflingida.... eu concordo com ela.. mas em silência continuo a pensar em mim como uma merda, uma inútil, uma gaja que não vale nada como fêmea e a culpada da minha vida ser uma merda por minha culpa, das escolhas erradas, dos momentos e atitudes erradas, dos meus prórpios erros, da minha própria culpa por ser má profissional, por ter as chatices que tenho em casa, por o tal gajo não gostar de mim.. enfim... e depois ouço.. "Queres ser feliz V? Queres mudar? Estás disposta a mudar?".. e as dúvidas pairam na minha cabeça e respondo: "Quem não qer ser feliz? Quem não quer mudar para melhor? Serei capaz? Vale a pena?".... volto para casa com o dobro do "melão", pior que estafada, com uma vontade de chorar e de querer ficar só... comigo e com a solidão, no silêncio.. mas mesmo assim não consigo porque vive mais gente aqui.. e então entro no inferno com um enorme soluço repirimido que me sufoca na garganta.. venho direita ao quarto... dispo-me visto o pijama.. deito-me e desta vez, desta vez as lágrimas não se soltaram... culpar-me da minha própria culpa, achar-me uma inútil, uma merda, um monstro físico e psicológico é tão mais fácil do que seguir em frente e arriscar... porque o medo do fracasso é bem pior e no fundo, no fundo não sei que o que me ateroriza mais: o facto de eu ser mm uma merda ou o facto de ter tentado em vão? ou de nem sequer ter tentado... e adormeço sabendo que mais dias virão e o tempo vai passar e não espera, nada espera!
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